Mulher perdoa assassino do marido e apoia casamento entre filho dela com filha dele; "eles não tem a ver com o que aconteceu"

  • Você perdoaria o assassino do seu marido? E se sua filha quisesse casar com o filho dele, você aceitaria? Bernadette Mukakabera, de Ruanda, permitiu a união e tem contado sua história como parte dos esforços contínuos da Igreja Católica para trazer reconciliação a uma sociedade que foi dividida em  1994, quando cerca de 800.000 pessoas foram mortas em 100 dias.

    “Nossos filhos não tiveram nada a ver com o que aconteceu. Eles simplesmente se apaixonaram e nada deveria impedir as pessoas de se amarem", disse Bernadette à BBC.

    Ela e o marido, Kabera Vedaste, eram membros da comunidade tutsi. Seus opositores, os hutus, começaram uma série de assassinatos aos rivais após a queda do avião em que o presidente do país estava. Um dos que matou pela política foi Gratien Nyaminani, que morava com a família ao lado da de Bernadette em Mushaka, no oeste de Ruanda. Ambos eram camponeses.

    Após o fim dos massacres, quando um grupo rebelde tutsi tomou o poder, centenas de milhares de pessoas acusadas de envolvimento nos assassinatos foram presas. Gratien foi preso e julgado, mas em 2004, ele contou a Bernadette como havia assassinado seu marido e pediu desculpas. 

    Ela decidiu perdoá-lo e, por isso, Gratien não teve que cumprir o restante da pena de 19 anos de prisão, e sim uma pena de 2 anos de serviço comunitário. Ele ficou nove anos preso antes do perdão.

    CASAMENTO

    Assim que saiu da prisão, a família de Gratien tentou se reconciliar com Bernadette e seu filho Alfred, que tinha cerca de 14 anos quando seu pai foi morto. Do outro lado, a filha de Gratien, Yankurije Donata, que tinha cerca de 9 anos na época do genocídio, começou a ir à casa de Bernadette para ajudar na casa.

    "Decidi ir ajudar a mãe de Alfred nas tarefas domésticas e até na fazenda, porque  ela não tinha mais ninguém para ajudá-la , considerando que meu pai foi o responsável pelo assassinato de seu marido", disse ele à BBC. "Acho que Alfred se apaixonou por mim quando estava ajudando sua mãe", completa.

    Para Bernadette, a consideração da menina com ela fez com que abençoasse a união. "Ela me ajudou sabendo bem que o pai dela havia assassinado meu marido, ela sabia que eu não tinha ajuda porque meu filho estava no internato. [...] Eu amava seu coração e seu comportamento, e é por isso que não pude resistir a ela se tornar a esposa do meu filho, contou.

    DESACREDITADO

    O pai da noiva, Gratien, entretanto, quando soube da proposta de casamento, não acreditou. "Ele ficava perguntando por que uma família que ele ofendeu tanto gostaria de ter algo a ver com sua filha", disse Yankurije.

    Eles finalmente conseguiram convencê-lo, e ele deu sua bênção depois que Bernadette insistiu que ela não guardava rancor contra Yankurije. “Senti que ela poderia se tornar a melhor nora porque me entendia melhor do que ninguém. Eu convenci meu filho a se casar com ela”, defendeu Bernadette.

    O casal se casou na igreja católica local em 2008. Segundo a BBC, a igreja liderou os esforços para reunir as comunidades na área após os massacres e Bernadette tem ido a eventos religiosos para contar sua história de perdão.

    Fonte: Aratu ON

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