Anvisa vai decidir sobre autotestes nesta quarta e Coronavac para crianças na quinta
A
tendência é a agência aprovar os dois processos, mas a decisão depende da
maioria dos votos dos cinco diretores
A diretoria colegiada da Anvisa
(Agência Nacional de Vigilância Sanitária) vai decidir na quarta-feira (19)
sobre a permissão de uso de autotestes da Covid no Brasil. No dia seguinte
(20), o órgão vai avaliar pedido do Instituto Butantan sobre a aplicação de
doses da Coronavac no público de 3 a 17 anos.
A tendência é a agência aprovar os dois processos, mas a decisão
depende da maioria dos votos dos cinco diretores. A discussão sobre o autoteste
será feita a partir das 15h. O Ministério da Saúde pediu na última quinta-feira
(13) para a agência liberar este tipo de exame que pode ser feito em casa.
Já a votação sobre a Coronavac está marcada para as 10h. O
imunizante desenvolvido pelo laboratório chinês Sinovac e distribuído no Brasil
pelo instituto ligado ao governo de São Paulo tem autorização de uso
emergencial para adultos.
Utilizado há meses em outros países, os autotestes são proibidos
no país por causa de uma resolução da Anvisa de 2015.
Pela regra, o ministério precisa propor uma política pública
para liberar a entrega dos exames ao público leigo. O ministro da Saúde,
Marcelo Queiroga, já sinalizou que os produtos não devem ser comprados pelo
governo federal.
A testagem no Brasil está centrada em clínicas, farmácias e
serviços públicos, que não estão conseguindo atender à demanda diante da
circulação da variante ômicron.
Técnicos da agência consideram que a proposta apresentada pela
Saúde tem lacunas, por exemplo, sobre a notificação de casos confirmados da
Covid. Ainda assim, a ideia é aprovar uma resolução que libere a entrada destes
exames no mercado.
Entidades científicas cobraram, na semana passada, uma política
de testagem mais ampla do governo federal e a permissão do exame em casa. A
procura pelos testes disparou com o avanço da contaminação na virada do ano.
O ministro Queiroga disse que o autoteste pode desafogar as
unidades de saúde, mas afirmou que a compra do produto para o SUS pode não ter
o efeito desejado.
"O Brasil é um país muito heterogêneo, de muitos
contrastes. A alocação deste recurso para aquisição de autoteste, distribuir
para a população em geral, pode não ter resultado da política pública que nós
esperamos", disse o ministro no último dia 14.
Presidente-executivo da CBDL (Câmara Brasileira de Diagnóstico
Laboratorial), Carlos Gouvêa disse à reportagem que os autotestes devem ser
mais baratos que exames de antígeno vendidos em farmácia.
"Hoje a gente vê valores de R$ 70 a R$ 150 (de testes de
antígeno) nas farmácias. O autoteste deve ficar de R$ 45 a R$ 70", afirma
Gouvêa.
Na proposta envidada à Anvisa, o ministério orienta que
pacientes que detectaram a infecção pelo autoteste procurem atendimento em
unidade de saúde ou teleatendimento para confirmar o diagnóstico e receber
orientações.
Segundo a mesma nota, a autotestagem é uma estratégia adicional
para prevenir e interromper a cadeia de transmissão da Covid-19, juntamente com
a vacinação, o uso de máscaras e o distanciamento social.
VACINA
A campanha de vacinação das crianças foi aberta na última sexta-feira (14), com
o imunizante da Pfizer destinado ao grupo de 5 a 11 anos. O primeiro imunizado
foi Davi Seremramiwe Xavante, um menino indígena de 8 anos.
Integrantes da Anvisa afirmam que algumas condições podem ser
definidas para aprovar a Coronavac para o grupo de 3 a 17 anos. Entre elas, que
o Instituto Butantan se comprometa a gerar dados sobre o uso das doses no
Brasil, além de apresentar o desfecho de estudo global que está sendo conduzido
na China, África do Sul, Chile, Malásia e Filipinas.
Os pareceres das áreas técnicas devem apontar que a vacina
demonstra dados sólidos de segurança. Além disso, destacar que o imunizante é
largamente aplicado nos mais jovens em outros países, como o Chile. O país
andino já imunizou 1,4 milhão de pessoas entre 3 e 17 anos.
O Ministério da Saúde avalia usar a Coronavac em crianças, caso
haja aprovação da Anvisa. Como a vacina é do mesmo modelo aplicado em adultos,
estados já se planejam para destinar doses estocadas ao público mais jovem.
A vantagem da Coronavac é a disponibilidade de doses, devido ao
fato de que o imunizante parou de ser usado pelo governo federal.
A vacinação de crianças e adolescentes é tema sensível no
governo Jair Bolsonaro (PL), pois o mandatário distorce dados e desestimula a
imunização dos mais jovens. Ele chegou a ameaçar expor nomes de servidores da
Anvisa que aprovaram o uso de vacinas da Pfizer em crianças.
Em nota divulgada no último dia 8, o presidente da Anvisa,
Antonio Barra Torres, rebateu insinuações de supostos interesses escusos da
Anvisa na vacinação de crianças e cobrou retratação do presidente.
Fonte: BC News